O Louco representa cada um de nós ao começarmos a nossa jornada de vida. Ele é Louco porque só uma alma simples tem a fé inocente para compreender, tal como o poeta, a jornada com todos os seus azares, dificuldades e recompensas.
No começo da viagem o Louco é uma criança, aberto e espontâneo. À nascença, o Louco, está no meio do seu próprio universo individual. Está estranhamente vazio (como num zero), mas imbuído do desejo de prosseguir a sua viagem e aprender. Esta façanha parece insensata (leviana) mas será que é mesmo?
No começo da jornada o Louco encontra imediatamente o Mago e a Papisa - as duas grandes forças em equilíbrio que fazem o mundo tal como o conhecemos. Tal como tudo o que existe no Universo, tudo tem o seu contrário. Não podemos pensar na noite, sem evocarmos de imediato, o conceito oposto, o dia. O Mago é criativo e activo, é a nossa tomada de consciência. A Papisa é o lado passivo, feminino, yin. O Mago e a Papisa são iguais em valor e importância. Cada um é necessário para haver equilíbrio.
à medida que vai crescendo, o Louco vai ficando cada vez mais alertado para o que o rodeia. Tal como a maior parte dos bebés primeiro reconhece a sua mãe - a mulher carinhosa, afectuosa que o nutre e cuida dele. Conhece também a mãe natureza que o cria. A Imperatriz representa o mundo da Natureza, das sensações, da fertilidade. As delícias das crianças na exploração de tudo em que mexem, cheiram ou saboreiam. A seguir o Louco encontra o Pai na figura do Imperador. É o representante da estrutura e da autoridade. Tal como o bebé que deixa os braços de sua mãe, ele aprende que há padrões para o seu mundo. A criança tem então uma nova experiência que lhe vem da descoberta da ordem. O Louco também se depara com as regras. Aprende que a sua vontade nem sempre é soberana e que há pessoas com autoridade para imporem regras. Estas restrições podem ser frustrantes, mas através da atitude persistente do Pai, o Louco começa a compreender os seus propósitos.
Agora, o Louco irá sair de casa e começar a sua educação formal. A criança é treinada em todas as práticas da sua sociedade e torna-se parte de uma cultura particular e do mundo. Aprende a identificar-se com um grupo e descobre um sentido de pertença.
O Louco confronta-se agora com dois novos desafios. Passa pela forte necessidade de união sexual com outra pessoa. Ele sente-se atraído para as relações mas também precisa decidir sobre as suas próprias crenças, os seus próprios valores. Começa a pôr em causa toda a informação que tem recebido e hesita entre aquilo que foi e o que está para vir.
Quando chega a adulto, o Louco já tem uma forte identidade e um certo domínio sobre si mesmo. Através da disciplina e da força de vontade desenvolveu um controlo interior que lhe permite ter êxito sobre o que o rodeia.
Mas os desafios continuam a surgir ao Louco e podem causar-lhe sofrimento ou desilusão. O Louco desenvolverá a coragem frente às adversidades mas também entenderá a importância da abordagem gentil e sedutora.
Mais tarde, o Louco é levado a colocar a eterna pergunta "Porquê?"e então, o Louco começa a fazer uma introspecção tentando compreender os seus sentimentos e motivações. O mundo sensual tem menos atracções e procura momentos de solidão, a seu tempo, procura um professor ou guia para o orientar e aconselhar.
Depois de muita introspecção o Louco começa a entender como tudo está interligado. Tem uma visão maravilhosa das suas formas e ciclos complexos. Às vezes as suas experiências parecem ser o trabalho do destino, pode iniciar-se um processo de mudança, podem surgir eventos que levem a um ponto de viragem. Neste momento, o Louco tem que decidir o que esta visão significa para ele. Olha para trás e assume a responsabilidade pelas suas acções passadas e faz correcções e ajustes para o futuro. As exigências da Justiça têm que ser cumpridas para que possa continuar a jornada. Neste momento tem que tomar decisões mas elas têm que ser analisadas com imparcialidade.
O Louco vai aperceber-se que nem tudo na vida são facilidades e, mais cedo ou mais tarde, vai encontrar a sua cruz. Ele aprende a render-se às suas experiências e não a contrariá-las.
Chegou então a ora de o Louco eliminar velhos hábitos, conceitos e preconceitos. Corta com os excessos porque aprecia as coisas básicas da vida. Desde a época em que abraçou o Eremita, o louco tem balançado num pêndulo emocional até perceber o equilíbrio estável da Temperança pois ao conhecer os extremos encontra a harmonia e aqui combinará todos os aspectos de si próprio para ter a harmonia.
Embora aparentemenete pareça não precisar de mais nada, como é corajoso, vai ao mais profundo do seu ser e então surge o encontro com o Diabo que não é mais que o nó da ignorância, a atracção pelo material. O Louco entende que do Diabo só conseguirá libertação através da destruição e da mudança brusca e isto pode ser uma experiência dolorosa mas que vale a pena viver, pois ao conseguir ultrapassá-la surge uma calma serena representada pela Estrela em que o Louco tem o seu coração aberto e o seu amor flui livremente.
Mas, esta calma perfeita pode ser estragada pela Lua que nos traz as ilusões, a fantasi, a imaginação. estas experiências podem fazer com que o Louco se sinta perdido e desorientado.
É a lucidez provocada pela luz e claridade do Sol que vai conseguir direccionar a imaginação do Louco que começa a sentir uma felicidade sem fim, capaz de realizar as suas grandezas.
O Louco renasceu e deverá fazer o Julgamento mais profundo da sua vida, deve descobrir aquilo para que anda neste mundo e receber aquilo que merece, nesta vida.
Então o Louco entrará novamente no Mundo mas, desta vez com uma compreensão muito mais integral, vivendo a sua vida com sentido, completando os seus projectos. É o fim da jornada do nosso Herói, descobriu o seu lugar no Mundo. Mas o Louco nunca pára de crescer e brevemente partirá para outra jornada para níveis mais elevados de compreensão e de consciência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário